A cultura é uma prioridade para muitos líderes hoje, quer
estejam gerenciando uma transição importante, como uma
fusão ou transformação digital, quer estejam apenas tentando
contratar alguém que tenha sucesso em sua empresa. No
entanto, a cultura pode ser difícil de entender e discutir, ainda
mais de gerenciar, porque parece intangível – muito da cultura
está ancorado em comportamentos, mentalidades e padrões
sociais velados.
Com isso em mente, a Spencer Stuart participou de um estudo
do impacto da cultura sobre os resultados dos negócios, cujos
resultados são explicados num artigo intitulado The Leader’s
Guide to Corporate Culture, publicado na edição de janeiro/
fevereiro do Harvard Business Review (HBR). O artigo fornece
uma estrutura para avaliar e gerenciar a cultura.
Para saber mais sobre como a cultura organizacional é
percebida pelos líderes empresariais da América Latina,
realizamos uma pesquisa online durante o último trimestre de
2017, convidando CEOs e diretores de RH na América Latina a
compartilhar suas opiniões sobre cultura organizacional e seu
impacto no desempenho dos negócios. Recebemos respostas
de 120 executivos de seis países – Argentina, Brasil, Chile,
Colômbia, México e Peru.
Uma fonte de vantagem competitiva
Quase todos (93 por cento) dos executivos que responderam a nossa pesquisa acreditam que
existe um vínculo claro entre cultura e estratégia, e a maioria considera a cultura de sua
própria organização como um ativo. Ainda mais (95 por cento) veem a cultura de sua
organização como uma fonte de vantagem competitiva, embora menos – 82 por cento –
caracterizem a cultura de sua empresa como uma cultura de alto desempenho. A maioria
(79 por cento) acredita que gerenciam e desenvolvem sua cultura organizacional com
eficácia, e 88 por cento dizem que existe uma ligação clara entre a cultura e a estratégia de
sua organização.
No entanto, os executivos latino-americanos também veem margem para melhorias em
como sua organização se comunica sobre a cultura. Enquanto 86 por cento dizem que sua
organização tem uma clara aspiração cultural, apenas 72 por cento acreditam que as
aspirações culturais são amplamente compreendidas em toda a organização. Mais de um
quarto (28 por cento) dos entrevistados diz que não há diálogo sobre a cultura em sua
organização, e a mesma porcentagem diz que sua organização não tem uma ferramenta para
mensurar a cultura. E 28 por cento não acham que a cultura e os valores são comunicados
com eficácia em sua organização.
O poder da intenção
As normas culturais definem o que é encorajado, desencorajado, aceito ou rejeitado dentro
de um grupo. Cultura e valores são conceitos estreitamente relacionados. Quando
adequadamente alinhados, os valores organizacionais e as pessoais impulsionam a cultura e
podem desencadear energia tremenda em direção a um propósito compartilhado dentro de
um grupo.
Para muitas organizações, a cultura é apenas algo que “acontece”. Por exemplo, não é
incomum ouvir os líderes latino-americanos atribuírem certos comportamentos ao fato de
serem “latinos”, acreditando que esses comportamentos não podem ser alterados. Estamos
totalmente em desacordo. Líderes podem intencionalmente moldar a cultura para alinhá-la à
estratégia de negócios e obter uma vantagem competitiva.
A pesquisa e a experiência prática mostram que, ao avaliar como a cultura afeta os
resultados, o contexto em que a organização opera – região geográfica, setor, estratégia,
liderança e estrutura da empresa – importa, assim como a força da cultura. No entanto, uma
poderosa intenção de moldar a cultura aliada à disciplina e ao sistema correto de
consequências da administração mudará o jogo independentemente de outros fatores.
Embora a palavra “consequências” tenha uma conotação negativa para alguns, acreditamos
que os líderes devem pensar sobre as consequências de forma mais ampla como resultado
ou efeito de uma ação ou condição. Então, ser promovido é consequência do desempenho no
trabalho assim como ser demitido. Tais decisões indicam quem na organização são os
“heróis” culturais – aqueles que incorporam os valores e os comportamentos desejados – e
quem são os “vilões” culturais, que estão resistindo à mudança. Quando não está claro quem
é o herói e quem é o vilão, mensagens erradas estão sendo enviadas para a organização.
Após muitos anos de consultoria de liderança na América Latina, estamos convencidos de
que a cultura corporativa pode superar as fortes preferências culturais regionais e nacionais.
Vamos usar um exemplo muito simples do México. Uma empresa multinacional queria
mudar os turnos de trabalho em sua fábrica no México para alinhar os horários com uma
“fábrica irmã” nos Estados Unidos. Como a maioria dos fabricantes globais, a empresa estava tentando “padronizar” os procedimentos operacionais em toda a rede de localidades globais. Isso envolvia o aumento da produtividade nivelando KPIs em todos os locais e criando uma cultura de equipe de alto desempenho. Para os trabalhadores, a mudança nos turnos significou que não poderiam seguir sua prática tradicional de almoçar às 14 horas, frequentemente por uma hora. A empresa mudou o horário do refeitório para que ficasse aberto das 11h às 12h15 e deu aos funcionários aproximadamente 30 minutos para comer. Apesar de muitas críticas inicialmente sobre o novo cronograma, os funcionários se ajustaram, e os novos turnos foram implementados e funcionaram de modo muito eficiente por muitos anos.
Que 3.500 mexicanos pudessem mudar um “hábito cultural” demonstra que a cultura
corporativa pode ser mais forte do que a nacional. Mudar o horário do almoço foi apenas
parte do esforço de mudança de cultura; a empresa também mudou sua abordagem de
feedback, encorajou mais a assertividade no gerenciamento de funcionários com baixo
desempenho, aumentou o senso de responsabilidade pelos resultados, e estabeleceu o
gerenciamento de conflitos e rituais de celebração para reforçar a cultura desejada
da organização.
Definir uma cultura aspiracional
Com base na vasta literatura sobre cultura, os autores de The Leader's Guide to Corporate
Culture identificaram quatro atributos da cultura geralmente aceitos:
- Compartilhada: A cultura é um fenômeno de grupo. Não pode existir apenas dentro de
uma única pessoa, nem é simplesmente a média das características individuais.
- Pervasiva: A cultura permeia vários níveis e se aplica de forma muito ampla
numa organização.
-
Duradoura: A cultura pode direcionar os pensamentos e as ações dos membros do grupo
no longo prazo.
-
Implícita: Um aspecto importante e frequentemente negligenciado da cultura é que,
apesar de sua natureza subliminar, as pessoas são efetivamente programadas para
reconhecê-la e responder a ela instintivamente.
Com esses quatro elementos em mente, a definição de uma cultura aspiracional que
efetivamente aproveita esse poder é uma obrigação para as organizações. Se acreditamos que
a cultura é algo que os líderes podem moldar por meio de ações conscientes e inconscientes
(às vezes com consequências não intencionais), deixar a cultura evoluir sem qualquer direção
da administração representa enorme risco.
A cultura não pode ser alterada sem a alta administração estar profundamente envolvida no
processo. Os líderes que respondem a nossa pesquisa reconhecem quem é responsável pela
cultura em sua organização. Noventa e cinco por cento (95 por cento) dizem que é claro
quem lidera a cultura globalmente em sua organização, e 97 por cento dizem que é claro
quem lidera a cultura na sua operação nacional. Os executivos também desempenham um
papel importante na modelagem dos comportamentos desejados. Pode haver espaço para
melhoria nessa área; 18 por cento dos entrevistados dizem que a equipe da alta
administração não serve consistentemente como modelo cultural.
Um olhar mais profundo dos dados
Na maior parte, vimos poucas diferenças entre as respostas dos CEOs e dos líderes de RH que
pesquisamos. Aqui está uma amostragem dos resultados da pesquisa.
Diferenças por função (% que concordam)
Alinhar o que chamamos de “sistema de consequências” com a cultura desejada requer
decisões difíceis dos líderes para recompensar os comportamentos apropriados e corrigir
aqueles que não apoiam a cultura aspiracional. Uma maneira pelas quais as organizações
fazem isso é garantindo que as pessoas em papéis-chave sirvam como modelos fortes para a
cultura e que haja consequências para aqueles que não o fizerem.
Em nossa pesquisa, 95 por cento dos executivos pesquisados veem uma ligação clara entre a
cultura-alvo da organização e quem é contratado. No entanto, apenas 83 por cento veem uma
ligação clara entre as práticas de RH e a cultura-alvo da organização, e 86 por cento
acreditam que existe uma ligação clara entre a cultura-alvo e quem é promovido ou demitido.
Como mudar a cultura organizacional
The Leader’s Guide to Corporate Culture identifica quatro práticas para mudar a cultura
corporativa. Listamos tais práticas aqui, juntamente com algumas informações adicionais de
nosso trabalho.
Articule a aspiração. Tenha cuidado ao definir uma cultura “sexy” para sua organização com o
objetivo principal de atrair talentos externos. Uma cultura aspiracional deve se alinhar com a
estratégia e outros requisitos comerciais. Não se trata de descrever um ambiente de trabalho
idílico. Então, criar expectativas de que a sua cultura é ágil e orientada à aprendizagem sem
dúvida será contraproducente se você estiver num setor altamente regulamentado em que as
pessoas precisam seguir muitas regras.
Selecione e desenvolva líderes que se alinhem com a cultura-alvo. Como o conceito de
“marca de liderança” que surgiu há alguns anos, os líderes serão responsáveis por modelar
os comportamentos desejados, servindo como embaixadores da cultura para acelerar o
processo de transformação cultural. Certifique-se de que os executivos tenham as
características e o estilo da cultura aspiracional.
Use conversas organizacionais sobre cultura para sublinhar a importância da mudança.
Conversas sobre cultura devem divulgar por que a cultura precisa mudar e como as decisões
refletem a cultura aspiracional. Por exemplo, ao anunciar promoções, reforce os ideais
culturais ao falar sobre como os indivíduos modelaram a cultura aspiracional.
Reforce a mudança desejada por meio do design organizacional. As estruturas, os sistemas e
os processos da empresa são a representação visível do sistema de consequências discutido
acima. Os sistemas de recompensas e os processos de desempenho e gerenciamento de
talentos, por exemplo, devem reforçar os comportamentos desejados e desencorajar
os outros.
Para profissionais de RH e CEOs, a mensagem é clara de que a cultura pode ser um
diferencial importante para o desempenho do negócio. Quando alinhada com a estratégia e a
liderança, uma cultura forte desencadeia resultados organizacionais positivos. Uma cultura
forte e saudável também serve como grande fonte de talentos, ajudando as organizações a
atrair e reter funcionários de alto desempenho. Como Jack Welch escreveu em seu livro
Straight from the Gut, “Eu sabia como queria que fosse a ‘sensação’ da empresa. Eu não
chamava de ‘cultura’ na época, mas era isso mesmo”.